sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Mais: Rubens Paiva foi assassinado nos porões do DOI-Codi

A verdade sobre Rubens Paiva

Comissão Nacional da Verdade declara que ex-deputado foi morto nas dependências do DOI-Codi 

15/02/2013

Patrícia Benvenuti
da Reportagem - http://www.brasildefato.com.br/node/11967

Uma das farsas forjadas por agentes da ditadura civil-militar (1964-1985) acaba de ser descoberta. No início de feverei­ro, a Comissão Nacional da Verdade de­clarou que o ex-deputado Rubens Paiva, morto em 1971, foi assassinado no Desta­camento de Operações de Informações -Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). 

A investigação do caso ganhou força em novembro do ano passado, quando documentos do regime foram encontra­dos em Porto Alegre (RS) na residência do coronel do Exército Júlio Miguel Mo­linas Dias, ex-comandante do DOI-Co­di, morto a tiros enquanto se dirigia pa­ra casa. 

De acordo com os documentos, Paiva foi preso em sua casa no Rio de Janeiro por uma equipe do Centro de Informa­ções de Segurança da Aeronáutica (Cisa), em 20 de janeiro de 1971 e, no dia seguin­te, entregue ao DOI-Codi. Na folha estão descritos todos os documentos pessoais e pertences que estavam com Paiva no mo­mento de sua detenção. 

Os registros desmontam a versão ofi­cial da ditadura de que o ex-deputado (cassado pelo Ato Institucional nº 1) te­ria sido resgatado por “terroristas” em 22 de janeiro, enquanto estava sob custódia do Exército. 

Os documentos foram entregues pelo governador gaúcho, Tarso Genro, à Co­missão Nacional da Verdade, que os con­frontou com informes inéditos encon­trados no Arquivo Nacional. O Informe nº 70, de 25 de janeiro de 1971, relata o que ocorreu com Paiva desde o dia 20 do mesmo mês, quando foi preso, até o dia 25. No informe não há registros sobre sua suposta fuga. 

Outra informação avaliada pela Co­missão foi o depoimento do tenen­te médico do Exército, Amilcar Lobo, prestado à Polícia Federal em 1986. Ele afirma ter sido chamado em sua casa em uma madrugada de janeiro de 1971 para assistir Rubens Paiva. Levado à cela do ex-deputado, o médico o exami­nou e constatou que ele estava com “ab­dômen em tábua, o que em linguagem médica pode caracterizar uma hemor­ragia abdominal”. 

Lobo afirma ainda no depoimento que aconselhou a hospitalização do pre-so mas que, no dia seguinte, foi informa­do de que Paiva havia morrido. O médico garantiu ainda que havia escoriações no corpo de Paiva, resultados de tortura. 

A conclusão acerca da morte de Paiva foi apresentada em um texto assinado pelo coordenador da Comissão Nacio­nal da Verdade, Cláudio Fonteles. Se­gundo o documento, “o Estado Ditato­rial militar, por seus agentes públicos, manipula, impunemente, as situações, então engendradas, para encobrir, no caso, o assassinato de Rubens Beyrodt Paiva consumado no Pelotão de Investi­gações Criminais – PIC – do DOI/CODI do I Exército”. 

Para a professora da Universidade de São Paulo (USP) Vera Paiva, filha de Ru­bens Paiva, a decisão oficial reconhece o trabalho de investigação feito pela pró­pria família nestes últimos 42 anos.“É uma sensação de alívio para a família”, afirma. “É importante para nós que isso esteja documentado, é uma prova viva de que as informações colhidas ao longo do tempo eram verdadeiras, diferente da versão dos militares”, acrescenta. 

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