Por Alexandre Criscione
Joseph Ratzinger enfrentou um
período difícil, pressionado internamente por grupos políticos ainda mais
reacionários do que a atual postura da Igreja, pelos inúmeros processos de
pedofilia de padres, bispos e cardeais, pelo escândalo do Banco do Vaticano,
envolvido com lavagem de dinheiro da máfia italiana, e pelo vazamento dos
documentos secretos pelo seu mordomo. Externamente também, por ser um Estado, o
Vaticano sofreu com a crise econômica europeia, influenciou sobremaneira os
governos centrais, principalmente o alemão, para que se aprovassem as medidas
de austeridade.
Ratzinger sempre foi um teólogo
brilhante, mas não tinha o carisma e a desenvoltura política necessária para o
papado. Por isso e também por já não estar tão bem de saúde, optou em se
afastar, transformando sua renúncia em um ato de humildade e desapego, e
omitindo os outros fatores, sinalizou que a Igreja precisa ser salva, mesmo que
ele não saiba como.
A Santa Sé foi um braço do
próprio sistema capitalista, principalmente em sua fase neoliberal, para ajudar
na conquista de corações e mentes. O desmonte feito na Teologia da Libertação
da década de 80 é um símbolo disso. Como símbolo de uma elite branca, europeia
e conservadora, se afastou muito dos ideais originais de Cristo, pelo qual
segundo ela foi criada. Seus feitos negativos históricos, como as Guerras
Santas, a Inquisição, a criação da Santa Aliança, a associação com o fascismo,
enfim, representam o modelo que a Igreja sempre representou e que hoje se
encontra em processo de falência.
O crescente fenômeno evangélico
no Brasil reflete muito deste deslocamento da Igreja Católica dos pobres e de
sua dificuldade em se adaptar ao mundo contemporâneo.
A Igreja precisa-se modernizar,
senão o pouco que ainda resta de moralidade tende a se esvair a médio prazo. A
Igreja precisa enfrentar muitos assuntos, principalmente o uso de preservativos
(tendo em vista sua larga influência na África e a alta mortalidade no
continente pela AIDS), os casos de pedofilia e a ligação com o fim do celibato
obrigatório dos padres, a homossexualidade e o casamento entre pessoas do mesmo
sexo, o aborto, e o ordenamento de mulheres na Igreja.
Não acho possível que mudanças
profundas ocorram com a eleição do novo papa, até porque os atuais cardeais têm
o mesmo pensamento retrógrado representado por Bento XVI e a chance dos
italianos retomarem o controle do Vaticano é crescente. Porém, uma possibilidade
de mudança positiva seria o da eleição de um papa aqui da América do Sul que,
arejado pelas idéias cristão-libertadoras do continente, talvez consiga mostrar
um respiro no meio desse lamaçal.
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