sábado, 23 de fevereiro de 2013

Por novos rumos para a Igreja Católica


Por Alexandre Criscione
 
Joseph Ratzinger enfrentou um período difícil, pressionado internamente por grupos políticos ainda mais reacionários do que a atual postura da Igreja, pelos inúmeros processos de pedofilia de padres, bispos e cardeais, pelo escândalo do Banco do Vaticano, envolvido com lavagem de dinheiro da máfia italiana, e pelo vazamento dos documentos secretos pelo seu mordomo. Externamente também, por ser um Estado, o Vaticano sofreu com a crise econômica europeia, influenciou sobremaneira os governos centrais, principalmente o alemão, para que se aprovassem as medidas de austeridade. 

Ratzinger sempre foi um teólogo brilhante, mas não tinha o carisma e a desenvoltura política necessária para o papado. Por isso e também por já não estar tão bem de saúde, optou em se afastar, transformando sua renúncia em um ato de humildade e desapego, e omitindo os outros fatores, sinalizou que a Igreja precisa ser salva, mesmo que ele não saiba como.

A Santa Sé foi um braço do próprio sistema capitalista, principalmente em sua fase neoliberal, para ajudar na conquista de corações e mentes. O desmonte feito na Teologia da Libertação da década de 80 é um símbolo disso. Como símbolo de uma elite branca, europeia e conservadora, se afastou muito dos ideais originais de Cristo, pelo qual segundo ela foi criada. Seus feitos negativos históricos, como as Guerras Santas, a Inquisição, a criação da Santa Aliança, a associação com o fascismo, enfim, representam o modelo que a Igreja sempre representou e que hoje se encontra em processo de falência. 

O crescente fenômeno evangélico no Brasil reflete muito deste deslocamento da Igreja Católica dos pobres e de sua dificuldade em se adaptar ao mundo contemporâneo. 

A Igreja precisa-se modernizar, senão o pouco que ainda resta de moralidade tende a se esvair a médio prazo. A Igreja precisa enfrentar muitos assuntos, principalmente o uso de preservativos (tendo em vista sua larga influência na África e a alta mortalidade no continente pela AIDS), os casos de pedofilia e a ligação com o fim do celibato obrigatório dos padres, a homossexualidade e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto, e o ordenamento de mulheres na Igreja.

Não acho possível que mudanças profundas ocorram com a eleição do novo papa, até porque os atuais cardeais têm o mesmo pensamento retrógrado representado por Bento XVI e a chance dos italianos retomarem o controle do Vaticano é crescente. Porém, uma possibilidade de mudança positiva seria o da eleição de um papa aqui da América do Sul que, arejado pelas idéias cristão-libertadoras do continente, talvez consiga mostrar um respiro no meio desse lamaçal.

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