Jornal Opção
Edição 1924 de 20 a 26 de maio de 2012
Euler de França Belém
Euler de França Belém

Lúcio Mauro: ator da Globo que era amigo dos militares
do porão
do porão
“Memórias de uma Guerra Suja”, depoimento do delegado Cláudio Guerra
aos repórteres Marcello Neto e Rogério Medeiros, conta que os militares
do porão articulavam no restaurante Angu do Gomes, no Rio de Janeiro.
Lá, com anuência dos proprietários, o coronel Freddie Perdigão e o
comandante Antônio Vieira “decidiam” os caminhos da repressão e quem ia
morrer.
“O Angu do Gomes fazia parte de um complicado esquema que arrecadava
fundos para as nossas atividades. Ali aconteceram vários encontros da
nossa irmandade, manipulados habilmente pelo coronel Freddie Perdigão.
Ali conspiramos contra [o presidente Ernesto] Geisel, Golbery [do Couto
e Silva] e [João] Figueiredo. No restaurante foram planejados
assassinatos comuns e com motivações políticas, e discutidos os vários
atentados a bomba que tinham como objetivo incriminar a esquerda e
dificultar, ou impedir, a redemocratização do país”, historia o livro.
Há informações sobre contatos de atores com figuras da repressão,
infelizmente mal exploradas por Cláudio Guerra e pelos repórteres. O
ator Lúcio Mauro, da TV Globo, “participava dos encontros” com militares
e chegava a cozinhar para eles. O delegado não avança sobre qualquer
relacionamento mais sério entre o humorista e a ditadura. O ator Jece
Valadão “saía em operações” com os policiais, mas não em missões
políticas. “Gostava de ver a execução de bandidos e Mariel Mariscot o
levava.” Carlos Imperial, Oswaldo Sargentelli, Ciro Batelli e José
Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, frequentavam o Angu do Gomes.
Batelli seria ligado aos bicheiros Castor de Andrade e Ivo Noal. Os
bicheiros apoiavam, com logística e dinheiro, as ações dos homens do
porão.
O apresentador de TV Wagner Montes também mantinha ligações com os
homens do porão, notadamente àqueles ligados ao delegado Fleury, como
Fininho, Joe e Mineiro. “Eram inseparáveis.” O cantor, ator e comediante
Moacir Franco também “cooperava”.
Curiosamente, ao resenhar o livro, a maioria das publicações ignorou as
ligações dos atores, jornalistas e jornais com militares ligados à
tortura de militantes da esquerda. Cláudio Guerra declara: “A ‘Folha de
S. Paulo’ apoiou informalmente as ações da Oban. Os carros que
distribuíam jornais eram usados em campanhas pela prisão de comunistas.
Esses carros eram muito úteis porque disfarçavam bem, ninguém
suspeitaria que membros da Oban estivessem ali dentro preparados para
agir”. Os repórteres Marcelo Netto e Rogério Medeiros apressam-se, numa
nota de rodapé, a defender o jornal: “A direção da ‘Folha’ sempre negou
ter conhecimento do uso de seus carros para isso”. Na verdade, Octávio
Frias de Oliveira, o falecido publisher, admitiu, sim, que o uso dos
veículos era (é) um fato, mas garantiu ao filho, Otavio Frias Filho, que
não tinha participação pessoal nenhuma com os militares. A história
está registrada na biografia de Frias pai e no livro “História da
Imprensa Paulista”, de Oscar Pilagallo. Supostamente, não havia como
reagir. Mas os carros do “Estadão” não foram utilizados.
Outra história não mereceu registro nas resenhas: “A bomba que explodiu
na casa do dono das Organizações Globo foi, na verdade, parte de uma
estratégia formulada por ele mesmo — Roberto Marinho. Foi simulado. A
ordem partiu do coronel Perdigão, e eu mesmo coloquei a bomba, mas tudo
foi feito a pedido do empresário, para não complicá-lo com os outros
veículos de comunicação, para se defender da desconfiança de suas
relações com os militares. Para todo mundo ele foi a vítima. Roberto
Marinho estava ficando muito visado pela esquerda e pela própria
imprensa. Achavam que ele apoiava a ditadura”. Cláudio Guerra contou com
o apoio do sargento Jair, de um tenente e do policial civil Zé do
Ganho.
Fonte > http://www.jornalopcao.com.br/colunas/imprensa/as-ligacoes-de-atores-com-policiais-do-porao-da-ditadura#.UP_aZjyixNv.facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário