Reproduzindo artigo de Leandro Fortes (CartaCapital)
A
reação formal do PSDB ao pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff
sobre a redução nos preços das tarifas de energia elétrica, em todo o
país, é o momento mais lamentável do processo de ruptura histórica dos
tucanos desde a fundação do partido, em junho de 1988.
A nota,
assinada pelo presidente da sigla, deputado Sérgio Guerra, de
Pernambuco, não vale sequer ser considerada pelo que contém, mas pelo
que significa. Trata-se de um amontoado de ilações primárias baseadas
quase que exclusivamente no ressentimento político e no desespero
antecipado pelos danos eleitorais inevitáveis por conta da inacreditável
opção por combater uma medida que vai aliviar o orçamento da população e
estimular o setor produtivo nacional.
Neste aspecto, o deputado
Guerra, despachante contumaz dessas virulentas notas oficiais do PSDB,
apenas personaliza o ambiente de decadência instalado na oposição, para o
qual contribuem lideranças do quilate do senador Agripino Maia,
presidente do DEM, e o deputado Roberto Freire, do PPS. Sobre Maia,
expoente de uma das mais tristes oligarquias políticas nordestinas, não é
preciso dizer muito. É uma dessas tristes figuras gestadas na ditadura
militar que sobreviveram às mudanças de ventos pulando de conchavo em
conchavo, no melhor estilo sarneysista. Freire, ex-PCB, tansformou a si
mesmo e ao PPS num simulacro cuja fachada política serve apenas de linha
auxiliar ao pior da direita brasileira.
O PSDB surgiu como
dissidência do PMDB que já na Assembleia Constituinte de 1986 caminhava
para se tornar nisto que aí está, um conglomerado de políticos
paroquiais vinculados a interesses difusos cujo protagonismo reside no
volume, a despeito da qualidade de muitos que lá estão. A revoada dos
tucanos parecia ser uma lufada de ar puro na prematuramente intoxicada
Nova República de José Sarney. À frente do processo, um grande político
brasileiro, Mário Covas, que não deixou herdeiros no partido. De certa
forma, aquele PSDB nascido sob o signo da social democracia europeia,
morreu junto com Covas, em 2001. Restaram espectros do nível de José
Serra, Geraldo Alckmin e Álvaro Dias.
Aliás, o sonho tucano só
não morreu próximo ao nascedouro, em 1992, porque Covas impediu,
sabiamente, que o PSDB se agregasse ao moribundo governo de Fernando
Collor de Mello, às vésperas do processo de impeachment. A mídia, em
geral, nunca toca nesse assunto, mas foi o bom senso de Covas que barrou
o movimento desastrado liderado por Fernando Henrique Cardoso, que
pretendia jogar o PSDB na fossa sanitária do governo Collor em troca de
assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores. FHC, mais tarde
chanceler e ministro da Fazenda de Itamar Franc o, e presidente da
República por dois mandatos, nunca teria chegado a subprefeito de
Higienópolis se Covas não o tivesse impedido de aderir a Collor.
Fala-se
muito da extinção do DEM, apesar do suspiro do carlismo em Salvador,
mas essa agremiação dita “democrata” é um cadáver insepulto há muito
tempo, sobre o qual se debruçam uns poucos reacionários leais. É no PSDB
que as forças de direita e os conservadores em geral apostam suas
fichas: há quadros melhores e, apesar de ser uma força política
decadente, ainda se mantém firme em dois dos mais importantes estados da
federação, São Paulo e Minas Gerais.
E é justamente por isso que
a nota de Sérgio Guerra, um texto que parece ter sido escrito por um
adolescente do ensino médio em pleno ataque hormonal de rebeldia, é,
antes de tudo, um documento emblemático sobre o desespero político do
PSDB e, por extensão, das forças de oposição.
Essas mesmas
forcas que acr editam na fantasia pura e simples do antipetismo, do
antilulismo e em outros venenos que a mídia lhes dá como antídoto ao
obsoletismo em que vivem, sem perceber que o mundo se estende muito além
das vontades dos jornalões e da opinião de penas de aluguel que, na
ânsia de reproduzir os humores do patrão, revelam apenas o inacreditável
grau de descolamento da realidade em que vivem.
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